quinta-feira, 14 de maio de 2015

Uma carta para mim


Hoje eu quero escrever pra você.
Como quem escreve aquelas cartas pra alguém que nunca vai ler ou que talvez até leia ,mas que  nunca vai entender, 
Hoje eu quero te dizer algumas coisas que guardei aqui dentro , misturadas a sentimentos inversos , contraditórios , díspares e até inconvenientes, mas cheias de razão.
 Você que se lotou de mim e me convenceu que estava repleta de algo a se dispensar .
Sim você está entendendo. O tom é de um certo deboche... Até mais que isto eu acho. Um tom de adeus. De quem se despede. De quem enxergou ( espero que há tempo) o próprio valor.
Sabe aqueles amores que se arrastam ,que a gente segue cegamente ,e que (  se você for muito abençoada ou tiver muita sorte ) de repente , a luz se acende e você grita que cansou? Que chega, que basta, que apesar de todos os motivos que a você tem pra continuar, eles já não são mais suficientes pra te fazer parar?
Pois é. 
Acho que está é uma carta de alforria.
Você foi muito bem remunerada por muito tempo pra ser incapaz. 
E como em tudo o que faz você se supera, a incapacidade foi pouco. Você conseguiu ir muito além.Você foi uma exímia incapaz.  Se houvesse um prêmio de incapacidade você teria subido naquele palco e sido ovacionada. Com certeza você foi o mais incapaz que se pode ser. Você foi tão fundo na auto sabotagem que validou a máxima de que quanto mais incapaz, mas faria sentido.E eu?  Claro , nunca fui vítima . Fui protagonista permissiva ,vendo  você se retalhar em mil pra ser quem não era, e nunca conseguir. Assistindo derrota a derrota acumularem-se à minha (sua) coleção de fracassos. Colocando dia a dia mais um tijolo neste castelo forte que me isolava da luz do sol.
Eu algemada a você , com algemas de ouro. Andando ao seu lado, me arrastando ao seu lado, e por fim sendo, arrastada por você.. Isolada de mim, pra rezar a sua cartilha e partilhar da sua verdade degradante. Você querendo ser ao menos sombra do que eram os que te rodeavam,aguentando as chantagens dos bastidores,  e eu mofando no fundo do meu peito agarrada aos seus pés,.jogando fora as minhas pérolas ,porque elas fariam mal aos porcos, se lhes fossem dadas a comer.
Você e este seu limite elástico, que foi até onde meu corpo aguentou.
Enfim, a corda cedeu.
Lembra daquele cena de uma novela, onde uma mulher gigante de tão gorda em um dado momento explode e seus estilhaços voam pelo céu ? Foi assim.
Só que quem explodiu não fui eu.
Que você tenha ido pro espaço e eu tenha enfim me encontrado liberta .
Que este meu grito de liberdade seja sussurrado bem baixinho como carícias que se falam ao pé do ouvido só pra quem interessa ouvir.
Que meu espelho continue sorrindo assim pra mim. Este sorriso leve de quem no fundo sabia que sempre teve razão. Mesmo ficando ali , nula , maturando , quase que esquecida ,mas voltando e surpreendendo até a si mesmo.Porque essência não se extingue. Se disfarça, camufla, esconde, mas não se dizima.
Que meus dias se cubram de clichês. Que eu descubra a cada dia a exuberância do comum. A louca insanidade de ser comum. Que o simples me faça especial e nunca mais me faça mal.
Nossa , e o mais importante! Que eu nunca me esqueça de você! Que você esteja sempre presente, como referencia. Que eu voe alto até onde eu quiser , mas que sua imagem me mantenha no chão. Pra que a dádiva de ter me livrado de você nunca seja ofuscada pelo efeito que o tempo e a ausência combinados  tem de distorcer verdades. De nos  fazer  lembrar apenas do que era bom em quem se foi .
 A gente sempre diz que quer esquecer quem nos fez sofrer. Pois eu não.Não com você. Não quero te ver ir e me deixe órfã e livre pra me encher de algo parecido com você de novo. Quero você ali , no seu lugar , pra que todas as manhãs quando eu acordar eu veja do que eu me livrei e que com isto  minha vida seja muito mais descomplicada Preciso de você pra manter viva a comparação. Pra que eu nunca sequer pense em me esquecer de quem eu nunca mais quero ser. Pra que meu troféu não se torne apenas uma afronta adicional e fique encostado num canto até virar um caneco empoeirado..
Preciso de você pra gostar cada vez mais de mim.
Sempre aprendi com o sofrimento porque ele deixa cicatrizes. Mas nunca pensei que aprenderia com a felicidade.
Sempre quis ser feliz como se felicidade fosse algo exponencial. E usando os termos que você me roubou, me esquecendo  que a felicidade é tanto volátil quanto sazonal. Traduzindo para o português,  que eu aprenda a  aprender a felicidade. . É como guardar munição .... Pro inverno que vai chegar. Porque os invernos sempre chegam, mas sempre se vão também.
Que eu guarde a foto dos meus dias felizes pra que nos dias difíceis eu me recorde que eles vão passar. Que por mais que eu não sinta , ou não acredite, ou não entenda , ou duvide , ou chore,ou não consiga ver ,  ou sinta as dores que tiver que  sentir ,vivendo as  fases difíceis, tão longas quanto necessárias,  eu olhe pro passado e lembre que sim.É possível.
Que eu contradiga o velho ditado de que tudo nesta vida é passageiro. O que eu percebi não é passageiro, e estar incólume , ilesa, livre, íntegra,salva e sã depois de ver você ir embora , não é algo que eu queira que passe
Que eu renegue cada dia mais heranças malditas , com cara de destino. Que eu suporte cada dia mais a minha desistência de me auto boicotar . Que eu suporte a realidade de viver bem, com tudo em seu lugar , com bênçãos a me esperar, e tenha a força de vontade necessária pra não sucumbir a este hábito que sempre tive de driblar a felicidade, pra depois não ter que de novo aprender a viver sem ela. Meu Deus, que ironia! Que eu tenha coragem de ser feliz...
E que eu finalmente e incondicionalmente  nunca mais aceite  viver sem mim.

Pra você que já foi, amém.






quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Faz de Conta

Faz de Conta que era sempre assim.

Faz de conta que você esta aqui. Que estes 3 anos não passaram, que nada aconteceu.

Faz de conta que só seu sorriso existiu. Que você nunca adoeceu. Que suas lágrimas , e suas mágoas, e sua solidão nunca foram maior que sua vontade de viver.

Faz de conta que estes anos não passaram, que o ¨... muitos anos de vida¨ daquele seu aniversário eram um desejo real do seu coração, e não só dos nossos.Que muitos viriam ,e que hoje estaríamos lá, novamente te desejando muitos e muitos e muitos anos felizes .

 Faz de conta que estes nossos corações ainda batem do mesmo jeito, que nunca foram atingidos por aquela bala, que não tiveram que continuar a bater descompassados ,que não tiveram seu peso diversas vezes insuportavelmente multiplicados

 .Faz de conta que não tivemos que recolher nossos pedaços e reconstruir tudo novo com o que sobrou.
Faz de conta que nossa vida não mudou sem você , e que não estamos sem você.

Faz de conta que esta saudade é mera nostalgia. Que daqui a pouco você vai chegar, e que vamos conversar até de madrugada , e rir até não poder mais, e lembrar de tudo o que foi bom.

 Faz de conta que o vazio que havia no seu peito ,repleto de rejeição e indiferença não te levariam de nós. Que haveria futuro.

Faz de conta que haveria futuro.
Faz de conta que você não sofreu. Que você nunca sofreu .
Faz de conta que só a sua alegria existiu, porque foi ela que ficou. Porque é assim que lembramos de você, que amamos você. Porque era assim que queríamos te ver.

Faz de conta que seria sempre assim .

Luci in the sky whith diamonds... You are a diamond.


¨Não posso dizer que não tive momentos de alegria.Mas posso afirmar que com certeza todos eles eram a desgraça em seu primeiro estágio¨  ( Lucimara Stella )


domingo, 8 de dezembro de 2013

Acrilic on Canvas








Acrilic On Canvas

Legião Urbana



É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre: "Não foi por mal"
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do teu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre: "Não foi por mal"
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
E é só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

Link: http://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/acrilic-on-canvas.html#ixzz2mvTUtaaq

segunda-feira, 5 de agosto de 2013



07 de janeiro de 2002

Nasci

Foi você que me deu a luz
Fui eu quem nasceu.
Nasci para o melhor de mim.Até hoje eu estava em gestação no ventre da vida,sendo preparada,maturada.Feito lagarta no casulo,por 32 anos esperando o momento para ser borboleta ,com o romper da minha placenta.
Foi você que me deu a vida.
Tudo o que era lágrima de dor, hoje é lágrima de amor.
Tudo o que parecia vivo e latente,hoje vislumbra e se espanta de longe.
Com o seu latejar.Com o brilho do seu olhar.
Tudo o que outrora (o ontem já me parece passado distante!) assustava e ecoava de dentro de um vazio a me procurar,pára hoje e recua : não há mais lugar.
Nasci para a vida , no seu despertar.
Por seu chorinho gritado que me fez acordar.
E me presentear
Com o melhor de mim,
em mim.
Sou você nos seus olhinhos a piscar
No meu amamentar.
Sou muito eu, no seu respirar.
Bem vinda vida.
Bem vindo meu bebe, meu Cadu.
Bem vinda, Silmara.

Nasci.

domingo, 28 de julho de 2013




DNA


Eu tinha 15 anos. Elas estavam lá. Era meu inicio, inicio das nossas vidas. Um amor escolhido pelas mãos de Deus. Tudo o que eu era. Tudo o que eu fui, como me fiz, o que me fez, o que vivi, o que escondi, o que ninguém nunca mais viu. Elas sabem, elas sempre saberão.
Na alegria do meu casamento, elas estavam lá, no altar. Na tristeza do meu divórcio, elas estavam lá, de mãos dadas comigo. Nas minhas idas e vindas, elas sempre estavam lá.
30 anos depois elas estão lá. E sempre estarão.
Almas ligadas, corações entrelaçados.
Nossas vidas seguiram caminhos diferentes. Não foi preciso convivência. A distância nunca existiu. Anos atrás são apenas ontem.
Eu tenho duas irmãs que nasceram da minha mãe. Eu conheço este amor. De sangue.
Eu tenho mais duas, com meu DNA. O mesmo gene compõe nossas células, o laço que não desata amarra nossas almas. Cristo nos fez assim, diferentes , ímpares, pra sempre iguais. Pra sempre juntas.
Minhas amigas, minhas irmãs, minhas meninas. Parte minha , por aí.
Pra quem queira saber o que é amizade. O amor sem nada a acrescentar. Sem contestar, sem cobrar , sem machucar. Amor, em sua essência pura.

Amo vocês.

sábado, 22 de junho de 2013

Solidão Assistida








Solidão nas suas mais variadas e diversas faces,

Solidão por opção. Com alguém. Rodeada de todos, sempre. Cheio de nada, mesmo assim
Solidão por abandono. Quando quem vai leva a sua melhor parte, a que te faz companhia Aí é mais que solidão, é vazio,
A tal solidão a dois, disfarçada por aparências e argolas nos dedos. A solução para fugir da real condição de ser inteiro , dividindo o que já não há mais, com o outro, eleito pra este papel. Ilusão pra disfarçar. A pior das solidões, misturada com mentiras
Solidão acompanhada. Destas que a gente desmorona, cai , cata os cacos do coração, mas recolhe tudo. Amontoa num canto como se fossem roupas saídas do armário e não devolvidas. Que a gente organiza depois.Sem pressa. Na sua hora. Que a gente se isola, encontra o luto de frente , chora as suas dores, aprende com todas as vertentes que a dor tras. Mas não se perde. Apenas se reorganiza, Tira o que empoeirou, libera espaços.
Solidão assistida. Como uma doença grave diagnosticada ha tempo, que com os procedimentos corretos fica controlada, Solidão virada do avesso, sem ajuda externa. No interior, mostrando as faces boas de que esquecemos, sempre a ignorar o lado  de livramento que uma perda pode estar escondendo.
As rejeições da vida nos levam a acreditar que o que não temos é o melhor que poderíamos ter e que o que temos não combina, já que esta lá.
Há mais na solidão do que podemos ver.
Fecho a porta do quarto, coloco a musica que mais faz meu coração intensificar seus sentimentos, sejam lembranças, dores, saudade, amor, perda. Masoquismo? Eu prefiro chamar de penicilina.
Solidão assistida, de longe, la onde estou vibrando no fim do túnel. Deixando a carga pelo caminho escuro.
Solidão assistida , no sentido de dar assistência. Só eu sou especialista em mim.

O dia seguinte vem melhor. Ai, os amigos estarão lá de fato.
Um peeling na alma. Deixa a pele seca, descama , enfeia pra limpar, rejuvenece.


Solidão. Na proposção certa. Seja bem vinda

Carvão





Ana Carolina



 
Surgiu como um clarão

Um raio me cortando a escuridão

E veio me puxando pela mão

Por onde não imaginei seguir

Me fez sentir tão bem, como ninguém

E eu fui me enganando sem sentir

E fui abrindo portas sem sair

Sonhando às cegas, sem dormir

Não sei quem é você
O amor em seu carvão

Foi me queimando em brasa num colchão

E me partiu em tantas pelo chão

Me colocou diante de um leão

O amor me consumiu, depois sumiu

E eu até perguntei, mas ninguém viu

E fui fechando o rosto sem sentir

E mesmo atenta, sem me distrair

Não sei quem é você


No espelho da ilusão

Se retocou pra outra traição

Tentou abrir as flores do perdão

Mas bati minha raiva no portão

E não mais me procure sem razão

Me deixa aqui e solta a minha mão

Eu fui fechando o tempo, sem chover

Fui fechando os meus olhos, pra esquecer

Quem é você?

Quem é você?

Quem é você?

Você...